GATTO, Dante. Era clássica e era moderna:
conceitos e implicações. Tribuna de
Tangará, Tangará da Serra, p. 06, 12 mar. 2014.
As
revoluções burguesas que ocorreram no final do século XVIII significaram avanços que
transformaram o mundo, principalmente, na perspectiva de encarar e se situar
frente à realidade, tornada infinitamente mais complexa. Avanços que tiveram
seu preço. A Revolução Industrial
significou o surgimento da indústria: hierarquia piramidal, divisão de
trabalho, perda da consciência do processo de produção e do produto dela, e
muitos problemas sociais. A Revolução
Francesa, por sua vez, foi respostas aos profundos problemas ligados as
contradições da monarquia absolutista e alterou o quadro político da França,
cujo exemplo serviu para todo o mundo. Ora, se a democracia representativa é
mais justa, sua organização é infinitamente mais complexa e por vezes gera
inseguranças que não tínhamos quando as decisões não precisavam da nossa
participação. A última revolução burguesa de que nos referimos é a revolução
estética e se entende pelo nome de Romantismo.
O Homem do Romantismo fundamentalmente perdeu a visão da totalidade que lhe era
prerrogativa na era clássica que é
como designamos tudo o que ocorreu antes. Perdeu a visão do todo, porque este
todo se tornou maior, não dominável pela compreensão imediata.
Uma questão que
sempre se interpõe a nossas reflexões é o que se constitui enquanto literatura
clássica. Em primeira instância, entendemos por literatura clássica aquela
produzida na Grécia Antiga ou em Roma, ou aquela literatura produzida no
Renascimento (Classicismo), no século XV e XVI que a resgatou. Em segunda
instância, clássico, literariamente falando, é toda a produção escrita até
(antes) o Romantismo. Antônio Soares Amora, neste sentido, divide o estudo da
literatura em duas épocas principais: clássica e moderna. A primeira vai até o
Romantismo; a segunda, após o romantismo, incluindo-o.
O
homem da era clássica, porque tinha a
consciência da totalidade, podia se pautar pela prerrogativa da razão: era,
maniqueísta, não em sentido pejorativo, mas por condição social mesmo. O
sentimento é inerente ao ser humano, mas neste período a razão, na medida em
que configurava o certo e o errado, dava conta de fornecer as respostas que os
homens precisavam.
O
homem da era moderna, do romantismo não poderá mais contar com a razão para
decidir qual caminho seguir, porque a consciência da totalidade se
tornou impossível. Restou-lhe a convivência com um estado de alienação.
O homem que não sabia mais e o que fazer pela voz da razão apelará à voz do
coração. É o romantismo: o sentimento substituindo a razão enquanto
prerrogativa humana em face da realidade.
Em
se falando de literatura, na era clássica, enquanto protagonista (personagem
principal) temos o herói: agente da ação, que se revelava contra as
eventuais contradições. Diante da complexidade da era moderna, penso que não é
difícil entender isto, o herói não mais será medido pelas suas ações, mas pelo
seu caráter, no sentido de clarificação de sua consciência na tentativa de superação
da inevitável alienação que se tornou sua condição. Herói problemático, portanto. A literatura conviverá, também, com a
possibilidade do protagonista do anti-herói.
A
literatura perde, pois, seu caráter formativo, porque a mensagem lhe escapa. Hegel
decretou mesmo o fim da arte, mas a arte não acabou. Heidgger interpretou a
expressão hegeliana acertadamente como um velamento da arte, como a própria
situação do herói.
Consciência
da totalidade implicava espírito de coletividade. Se todos tinham clareza do
certo e errado, o discurso podia ser entendido coletivamente. O estado de
alienação rompeu com tal perspectiva e só conseguiu fazer sentido na
individualidade, porque a resposta pela via do sentimento é individual. Surgiu
então, na literatura, o enredo psicológico em detrimento aos enredos tradicionais,
de ação; e a epopeia, forma épica que retratava a saga de um povo, foi, então,
substituída pelo romance que se refere a um caso particular, individual de
auto-entendimento e da possível auto-realização.
Ressurgem,
no entanto, dentro do movimento dialético, momentos clássicos. O parnasianismo,
por exemplo, tendência na poesia dentro do realismo, representou um destes
ressurgimentos. O Modernismo, por sua vez, apresentou-se infenso às práticas
anteriores (parnasianas), iconoclasta, caudatário do Romantismo com forte
propensão nacionalista. A geração de 45 deixou aflorar, novamente, a forma e a
temática clássica. Portanto, trata-se de um processo cíclico que nos permite
afirmar: O clássico nunca morre, mas rejuvenesce em diferentes contextos.
Acusamos tal fenômeno, resumindo drasticamente a questão, à prerrogativa
racional em sua base e necessidade de recuperação e equilíbrio.
interessante
ResponderExcluiré mesmo :)
ExcluirMassa véi
ResponderExcluirRealmente, ajuda a entender nossa última aula! Gostei (e muito) do texto!
ResponderExcluirFico feliz
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